Humberto Maturana e Francisco Varela foram dois biólogos chilenos que revolucionaram a maneira como entendemos a vida, o conhecimento e a cognição.
Embora ambos tenham formação em biologia, suas contribuições ultrapassam os limites da ciência natural, influenciando profundamente áreas como a filosofia da mente, a epistemologia, a psicologia e até a educação.
A principal teoria desenvolvida pela dupla é a teoria da autopoiese, conceito que propõe uma nova maneira de compreender os sistemas vivos.
A Origem da Autopoiese
A palavra autopoiese vem do grego: auto (próprio) e poiesis (criação), ou seja, "auto-criação". Essa ideia surgiu a partir das pesquisas de Maturana sobre o funcionamento dos sistemas nervosos em seres vivos, especialmente no comportamento de animais.
Varela, seu aluno e depois parceiro intelectual, uniu-se à pesquisa, e juntos publicaram em 1972 a obra seminal "De Máquinas e Seres Vivos: Autopoiese – A Organização do Vivo".
Para Maturana e Varela, um sistema vivo é aquele que é capaz de manter sua própria organização — é fechado em termos organizacionais, mas aberto em relação ao ambiente no qual está inserido.
Isso significa que ele se auto-produz continuamente, regenerando seus próprios componentes enquanto interage com o mundo ao seu redor. O organismo não é um mero receptor passivo do ambiente, mas um construtor ativo de sua própria realidade.
Cognição como Ato Biológico
A partir da noção de autopoiese, Maturana e Varela desenvolveram também uma nova compreensão da cognição. Em vez de enxergar o conhecimento como uma representação fiel de um mundo externo objetivo, eles afirmam que conhecer é viver.
O conhecimento, segundo eles, emerge da história de interações entre o organismo e seu ambiente. Assim, cognição é vista como um processo incorporado e situado.
Essa abordagem é chamada de cognição incorporada (ou enativa). Em outras palavras, a mente não está separada do corpo e do mundo, mas é parte de um sistema integrado.
Varela expandiu essa ideia em seus trabalhos posteriores, especialmente na obra "The Embodied Mind", escrita com Evan Thompson e Eleanor Rosch, onde dialoga com a tradição budista e com a fenomenologia de Husserl e Merleau-Ponty.
Implicações Filosóficas e Sociais
As ideias de Maturana e Varela possuem profundas implicações filosóficas. Ao desafiar a visão clássica de um sujeito conhecedor separado do mundo, eles propõem uma epistemologia relacional. Isso significa que a verdade não é algo que existe independentemente do observador, mas é cocriada na relação entre o observador e o observado.
Implicações Filosóficas e Sociais
As ideias de Maturana e Varela possuem profundas implicações filosóficas. Ao desafiar a visão clássica de um sujeito conhecedor separado do mundo, eles propõem uma epistemologia relacional. Isso significa que a verdade não é algo que existe independentemente do observador, mas é cocriada na relação entre o observador e o observado.
Emoção e Aprendizagem
Para Maturana, a cognição está profundamente ligada às emoções. Ele afirma que “tudo o que fazemos como seres humanos acontece na emoção”. Isso significa que o processo de aprender não pode ser separado do ambiente emocional no qual o aluno está inserido.
Legado e Atualidade
A obra de Maturana e Varela continua viva e sendo debatida nas mais diversas áreas. Suas ideias inspiraram práticas educacionais mais centradas na experiência e no diálogo, influenciaram o design de organizações mais humanas e colaborativas, e contribuíram para o surgimento de campos como a biologia do conhecer e a neurofenomenologia.
Mais do que teorias biológicas, suas contribuições representam um convite à reflexão sobre o que significa estar vivo, conhecer, sentir e conviver.
Em tempos marcados por crises ecológicas, sociais e políticas, suas ideias oferecem caminhos para repensar nossas relações com os outros e com o mundo — não a partir de modelos de controle e previsibilidade, mas sim da escuta, do respeito e da coevolução.
Espero que tenha gostado do post de hoje. Abraços e até a próxima!
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