Gostaríamos de ajudá-lo(a), professor(a), a aprimorar sua prática no trabalho pedagógico, de forma a mediar o olhar da criança sobre si mesma (e sobre o mundo) e ajudar a criança a constituir sua identidade, acompanhando seu belo processo de construção de conhecimentos e da subjetividade.
Tanto nas crianças quanto nos adultos, a cada nova aprendizagem a pessoa se desenvolve e se posiciona no mundo. E cada diferente posição do “eu” no mundo propicia novas aprendizagens, nova construção de conhecimentos. Portanto, esses processos se apoiam e se influenciam mutuamente.
É por isso que hoje vamos dar início a mais um novo estudo.
CONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEM
Para apresentar as principais ideias sobre o desenvolvimento de crianças de 0 a 6 anos, de forma a subsidiar a sua mediação nesse desenvolvimento, organizamos um estudo em três aulas, a saber:
Módulo 1 – Reconhecendo experiências de aprendizagem.
Módulo 2 – A exploração do ambiente imediato.
Módulo 3 – A construção da identidade pela criança.
Objetivo específico a ser alcançado nesta primeira aula:
– Discutir como a construção de conhecimentos se faz nas práticas pedagógicas.
Muitas pessoas imaginam que o resultado de uma aprendizagem depende da inteligência da pessoa (criança ou adulto). Ou seja, quem aprende rápido é inteligente. Quem não aprende, ou demora a se apropriar de um determinado conteúdo, significado ou de uma ação, não é tão inteligente assim.
Mas será que estas ideias estão corretas? Será tão simples assim avaliar a inteligência e a aprendizagem de alguém?
Propomos a você primeiro fazermos juntos uma reflexão sobre o aprender e qual o papel do(a) professor(a) junto às crianças para favorecer seu processo de construção de conhecimentos e da sua subjetividade.
Muitos de nós, professores(as), fomos acostumados a entender que a aprendizagem significa o domínio (ou memorização) de conceitos ou de técnicas usadas para se obter um determinado resultado, por exemplo, ensinar às crianças o nome das cores ou a escrever o seu próprio nome.
Com isso, ficamos surpresos quando uma criança reage de uma forma inesperada e inteligente, por ela ter aprendido outras coisas que não estavam em nossos planos!
Quer dizer que ela aprende coisas à revelia do(a) professor(a). Aprende com outras crianças e aprende mesmo quando, interagindo com ela, não estamos preocupados com o que está aprendendo. Ela também aprende coisas que não queríamos que aprendesse.
Educamos as crianças e podemos ensinar a elas muitas coisas em atividades como as de refeição, de higiene, na hora de dormir, ou quando elas estão brincando. Por outro lado, podemos ensinar melhor algumas coisas conforme o cuidado que dedicamos a estes momentos.
É muito diferente a experiência para as crianças, por exemplo, se proporcionamos um ambiente organizado, ou não, se lhes damos uma atenção individualizada, ou não.
A maneira como desenvolvemos uma atividade, seja de alimentação, na realização de um projeto de pesquisa, ou na brincadeira, revela às crianças o cuidado que estamos dedicando a elas.
A aprendizagem e a afetividade caminham juntas. Não pense, professor(a), que a afetividade diz respeito somente ao carinho e ao amor. Quando falamos em afetividade estamos falando de todas as emoções e sentimentos que afetam uma pessoa.
Conforme a maneira como cuidamos de cada uma das atividades com as crianças, podemos estar lhes proporcionando diferentes afetos, tais como a admiração, a gratidão, a inveja, a raiva, o despeito, o medo, o arrependimento, a culpa, a coragem, a presença ou ausência de autoestima e tantos outros.
Desde que nascemos, o estado emocional (nosso e das pessoas com quem interagimos) afeta a nossa capacidade de aprender e de agir sobre o mundo. À medida que aprendemos, nos tornamos capazes de identificar nossos afetos e, algumas vezes, voltá-los para o nosso benefício. Isso também é aprendizagem.
As crianças, com sua inteligência e afetividade, estão aprendendo sobre o mundo e sobre si mesmas a partir de todas as interações que os adultos – especialmente os pais e os(as) professores(as) – estabelecem com elas.
Para cumprirmos nosso papel na educação das crianças, é necessário que estejamos atentos tanto ao que elas estão aprendendo quanto ao que estão sentindo. Mas não é somente a afetividade que influencia e é influenciada pela aprendizagem.
Podemos dizer que os seres humanos integram aspectos físicos, psicológicos (cognitivos e afetivos) e sociais. Vamos primeiro nos reportar a uma situação da vida dos adultos para compreender essa integração.
Você já reparou como a pessoa fica ansiosa às vésperas de se submeter a uma entrevista de seleção para um emprego? Ela não para de pensar nisso e sua barriga ou cabeça podem até doer!
Estão, aí, presentes os aspectos sociais (o emprego), emocionais (a ansiedade), cognitivos (ficar pensando nas perguntas que podem fazer e nas respostas que vai dar) e físicos (a compulsão para comer ou falta de apetite, músculos tencionados, falta de sono), influenciando simultaneamente as possibilidades de desenvolvimento dessa pessoa.
A expectativa de um acontecimento novo, a tristeza por uma frustração, a alegria por uma grande realização alteram significativamente as nossas condições físicas, psicológicas e sociais a cada momento das nossas vidas, e isso não é diferente com a criança! Essas condições fazem com que tenhamos momentos menos ou mais propícios para aprender.
A aprendizagem é um recurso de que todos os seres humanos se utilizam para se adaptar ao ambiente em que vivem e para conquistar o que almejam e desejam.
Este ambiente é composto de espaço, tempo, objetos e pessoas. Todos muito influenciados pela organização social (histórica e geográfica), que determina muitas de nossas práticas, crenças, valores e organização da vida.
Portanto, à medida que aprendemos a manipular os objetos, a organizar nossas ações numa sequência, a lidar com as pessoas etc., nos tornamos mais capazes de viver melhor, atingir nossos objetivos, obter satisfação e prazer com a vida.
Porém essa aprendizagem não é simples. A criança precisará de muitos anos para compreender e se apropriar das práticas sociais concretas e dos significados existentes em sua cultura.
Você percebeu como a atuação do(a) professor(a) é complexa? Mas você também, professor(a), já deve ter aprendido algo com as crianças.
Portanto, professor(a), quando você estiver diante de uma criança mais lenta, ou que se mostra sem saber o que fazer, tente observar se a dificuldade que ela demonstra está mais relacionada à falta de informações prévias, a uma dificuldade emocional ou afetiva para pensar objetivamente sobre a situação, ao fato de estar interessada em outra coisa, ou a algo que nenhum de nós ainda pudemos supor que possa estar ocorrendo com ela.
Com o que vimos até aqui, podemos perceber a importância do acolhimento, de um clima afetivo positivo, da constância da formação de vínculos e amizades.
Para a criança, suas relações sociais têm muita importância e devemos considerá-las com seriedade. O(a) educador(a) transmite segurança acolhendo as emoções da criança, ouvindo-a, valorizando suas perguntas e produções, e respeitando suas opiniões.
Podemos concluir, também, sobre a importância de cuidar, “dar um colo”, arrumar ambientes acolhedores para que as crianças possam se identificar com eles.
A história pessoal de cada criança precisa ser levada em conta, assim como a história coletiva daquele grupo, daquela turma. E que os diferentes tempos das crianças sejam respeitados.
Estamos todos aprendendo, e temos muito o que aprender, sobre as crianças. O que elas podem estar aprendendo a cada situação? É o que tentaremos identificar na próxima aula: A exploração do ambiente imediato.
Espero que tenha gostado do estudo de hoje. Abraços e até a próxima!😉
Fonte: Livro de estudo: Módulo II / Karina Rizek Lopes, Roseana Pereira Mendes, Vitória Líbia Barreto de Faria, organizadoras. – Brasília: MEC. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação a Distância, 2005. 70p. (Coleção PROINFANTIL; Unidade 2).
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