Meu nome é Luciane de Deus, sou Pedagoga, Psicopedagoga, Neuropsicopedagoga, entre outras especialidades.
Através deste blog você vai conhecer as ferramentas necessárias para favorer a aprendizagem dos seus alunos com dificuldades ou transtornos de aprendizagem e terá acesso à incríveis recursos pedagógicos que possam te auxiliar com seus alunos ou aprendentes. Seja muito bem vindo (a)!
A construção da identidade infantil é um processo dinâmico e multifacetado, que envolve não apenas a percepção interna do corpo e do eu, mas também as interações com o ambiente, com a família, a escola e, mais amplamente, com a cultura em que a criança está inserida.
Este processo é fundamental para a formação da autoimagem e da maneira como a criança se percebe e é percebida pelos outros.
Neste post, exploraremos alguns aspectos-chave dessa construção, como a formação da autoimagem, o controle de esfíncteres, as mordidas, o uso de palavrões e o exibicionismo, sempre dentro da perspectiva das relações sociais e culturais.
A Formação da Autoimagem
A autoimagem é a percepção que a criança tem de si mesma, e ela começa a se formar desde os primeiros anos de vida. O reconhecimento do corpo, suas capacidades e limitações, e a maneira como ela é tratada por adultos e outros indivíduos ao seu redor influenciam diretamente a construção dessa autoimagem.
Desde os primeiros meses, o bebê começa a perceber seu reflexo no espelho e, aos poucos, entende que aquele reflexo é ele mesmo. Esse processo é um marco importante para o início da construção de uma identidade autônoma, que será desenvolvida e moldada ao longo de sua vida.
O olhar do outro também desempenha um papel central nesse processo. A interação com os pais e com outras figuras de autoridade ajuda a criança a entender como é vista pelos outros e como ela deve se comportar para ser aceita socialmente.
A criança aprende, assim, que sua identidade não é formada apenas pelo que ela sente, mas também pelo que os outros percebem dela.
O Controle de Esfíncteres
Um dos marcos significativos no desenvolvimento da identidade de uma criança é o controle dos esfíncteres, que ocorre, geralmente, entre os 2 e 3 anos de idade.
Este é um momento em que a criança começa a adquirir o controle sobre suas necessidades fisiológicas, como urinar e defecar, e isso tem implicações profundas na sua autoimagem.
O processo de controle de esfíncteres não se dá de forma isolada; ele está intimamente ligado à relação da criança com os outros. As expectativas culturais e familiares sobre esse comportamento influenciam diretamente o modo como a criança se percebe nesse estágio.
Uma criança que é elogiada e valorizada por seus avanços nesse controle pode desenvolver um senso de competência e autonomia. Por outro lado, punições e críticas podem levar a sentimentos de vergonha ou frustração.
Mordidas entre Crianças
As mordidas são comportamentos típicos da infância, especialmente durante a fase de desenvolvimento emocional e social que ocorre entre 1 e 3 anos.
Embora possam ser interpretadas como atos agressivos, as mordidas muitas vezes refletem a tentativa da criança de expressar emoções que ainda não consegue verbalizar adequadamente, como frustração, raiva ou ciúmes.
Esse comportamento é uma forma primitiva de comunicação e é comum em ambientes de interação social, como nas escolas e nos parques.
A mordida, portanto, está diretamente relacionada à construção da identidade, pois a criança está lidando com suas emoções e tentando entender os limites e normas sociais.
A maneira como os adultos reagem a esse comportamento — se com compreensão ou punição — pode influenciar a forma como a criança percebe a si mesma e como ela se encaixa nas normas sociais do grupo.
O Uso de Palavrões
Outro aspecto relevante na construção da identidade infantil é o uso de palavrões. Embora muitas vezes os palavrões sejam vistos como uma forma de transgressão, eles fazem parte do processo de aprendizagem da linguagem e da negociação do que é socialmente aceitável.
As crianças começam a usar palavras "proibidas" quando percebem que elas causam uma reação nos outros, seja de surpresa, indignação ou riso.
O uso de palavrões pode ser interpretado como uma tentativa da criança de testar limites e de experimentar seu poder sobre os outros, ao mesmo tempo em que se insere no mundo simbólico da cultura.
Ao reagirem a esse comportamento, os adultos oferecem à criança uma forma de aprendizado sobre as normas culturais e sociais que regem a comunicação e o respeito.
Exibicionismo
O exibicionismo infantil, ou a necessidade de mostrar o corpo, é outro comportamento que surge em alguns estágios da infância, especialmente na fase do desenvolvimento psicomotor.
Nesse momento, a criança ainda está descobrindo o seu corpo e sua relação com ele e com os outros. O exibicionismo, nesse contexto, é muitas vezes uma forma de chamar a atenção e obter reconhecimento dos adultos ou dos pares.
Como no caso dos palavrões, o exibicionismo também está relacionado à experimentação de limites. A maneira como os adultos respondem a esse comportamento pode influenciar diretamente a percepção da criança sobre seu próprio corpo e sobre o que é apropriado ou não na cultura em que vive.
A Relação com os Outros e a Cultura
Todos esses comportamentos — controle de esfíncteres, mordidas, palavrões e exibicionismo — estão interligados pela interação da criança com os outros. A forma como ela é tratada e o feedback que recebe das figuras de autoridade, como pais, professores e colegas, são cruciais para a formação de sua identidade.
Além disso, a cultura concreta em que a criança está inserida — com suas normas, tabus e valores — também exerce grande influência sobre o modo como a criança se comporta e entende a si mesma.
Por fim, a construção da identidade infantil é um processo contínuo, que vai além dos aspectos psicológicos e físicos, envolvendo a relação com o outro e com o mundo social e cultural ao redor.
O papel dos adultos é fundamental nesse processo, pois são eles que, muitas vezes, fornecem os primeiros modelos de comportamento, criando um ambiente seguro para que a criança possa explorar, aprender e, ao mesmo tempo, construir uma identidade sólida e autêntica.
Espero que tenha gostado do nosso estudo de hoje. Abraços e até a próxima!😉
Os processos de aprendizagem e desenvolvimento humano englobam os aspectos físicos, psicológicos (cognitivos e emocionais) e sociais. A motricidade, a linguagem, o pensamento, a afetividade e a sociabilidade são aspectos integrados e se desenvolvem a partir das interações que, desde o nascimento, a criança estabelece com diferentes parceiros.
Para os bebês, seu próprio corpo muitas vezes é um ambiente de aprendizagem. Quando suas necessidades físicas estão supridas, vemos o bebê em atividade de exploração em relação a seus próprios movimentos e adquirindo rapidamente habilidades para gesticular, pegar objetos e se locomover.
Suas expressões também vão se tornando cada vez mais sintonizadas aos significados que estão sendo construídos nas interações com os adultos mais próximos, através das brincadeiras que realizam e durante os contatos para trocar, fazer dormir e dar de comer.
Desde muito pequenas, as crianças têm projetos de ação. Você, professor(a), já deve ter presenciado situações em que elas demonstram ter um objetivo, como abordar outra criança, ou obter um brinquedo, e não se dirigem diretamente a ele.
Antes disso, observam, desenvolvem uma ação intermediária, para depois ir em busca do que almejam.
Mas isso só acontece em ocasiões muito especiais, quando toda uma gama de elementos está presente, tais como o domínio do espaço, a familiaridade com as demais crianças e adultos presentes, quando a criança não está com fome, cansada, sonolenta, triste ou assustada, e quando o adulto não interfere no que ela está fazendo.
Em geral, se uma criança se encontra numa situação muito nova, ou estranha, sem a presença de um adulto familiar e querido, suas ações são desorganizadas e impulsivas.
Muitas vezes a mediação do adulto na exploração que a criança faz sobre si mesma e sobre o meio se dá nessa não-interferência.
Mas antes, a mediação se deu na forma como esse adulto organizou o ambiente, garantiu seu conforto físico e propiciou oportunidades para que a criança fosse ao encontro de seus interesses.
Para refletir
Mônica, mãe de João, um garotinho de um ano e dois meses, ao ajudá-lo a subir e descer repetidas vezes uma escada, comentou: “Ele não sabe para onde quer ir e não estou conseguindo convencê-lo a se decidir!”
João ria alegremente, enquanto procurava se desvencilhar da mãe.
Ela não estava percebendo que seu filho já tinha decidido e estava fazendo, com prazer, exatamente o que queria: ele tinha conquistado uma nova capacidade, de subir e descer a escada, sozinho! E estava explorando diferentes formas de fazê-lo, curtindo sua nova conquista.
Ao invés de curtir com ele sua atividade, a mãe, tentava mudar seu interesse e estava ficando cada vez mais nervosa com isso, até pegá-lo no colo, desconsolado, e levá-lo para outro local.
Crianças em idades próximas à de João têm grande interesse por atividades que lhes permitem explorar suas capacidades motoras recém conquistadas.
Elas sentem prazer em repetir as ações de subir, descer, passar por baixo ou por cima de algo, empilhar objetos, encher e esvaziar vasilhames etc. O(a) professor(a) que trabalha com crianças dessa idade pode organizar espaços, ou levá-las a locais onde essas atividades possam ocorrer.
Elas estão numa fase em que às vezes conseguem, às vezes não, executar uma determinada ação, como, por exemplo, encher uma colher com a comida e levá-la à boca, sem derrubar.
É emocionante observar a expressão de alegria de uma criança quando consegue equilibrar dois tubos largos de plástico, madeira ou outros materiais, uns sobre os outros!
Para usarmos certas habilidades, precisamos exercitá-las, tentar e tentar novamente, até que elas se transformem em um instrumento para usarmos em outras ocasiões. É isso que essas crianças estão fazendo: ampliando suas possibilidades de agir sobre o mundo.
Nós, adultos, fazemos o mesmo, porém não com a mesma energia, quando adquirimos um novo equipamento, aprendemos uma nova receita ou descobrimos uma forma diferente e melhor de fazer alguma coisa. Você não acha?
É fácil nos desorganizarmos em relação às ações necessárias para atingir um determinado objetivo. Na criança pequena é mais fácil ainda!
Primeiro, porque ela ainda está tentando dominar algumas ações. Segundo, porque muitas vezes os adultos não entendem o que ela pretende e interrompem seu projeto de ação.
Além disso, essa criança muito pequena ainda não desenvolveu a noção de espaço e de tempo, tal como o adulto a tem.
Ela pode não ser capaz de compor mentalmente um espaço que não está vendo, como o que está atrás dela, nem organizar os fatos numa linha temporal, percebendo o que é passado e o que é futuro.
O desenvolvimento dessas noções se dá através da repetição cotidiana da sequência de atividades e frequência nos espaços que permitem à criança, aos poucos, antecipar o que ocorrerá a seguir.
É difícil, também, articular diferentes ações e intenções quando estamos em grupo, até mesmo para os adultos, mas todos nós gostamos de estar com outras pessoas. E crianças gostam de estar com outras crianças.
Por isso, é importante o(a) professor(a) conhecer seus interesses, organizar os espaços e tempos para as diferentes atividades que elas desejam e precisam realizar, planejar e organizar previamente esses espaços e tempo, de forma a propiciar que elas tenham oportunidade de experimentar seus projetos de ações, aprendendo a articulá-las com as ações de outras crianças.
Por volta dos dois anos, elas demonstram grande interesse em aprender a falar as palavras e a exercer cuidados pessoais, como comer sozinhas, lavar as mãos, despir-se e vestir-se, pentear os cabelos etc.
A imitação e as repetições constantes são como “ferramentas” para elas aprenderem e se desenvolverem com essas práticas, conforme observam outras crianças e adultos executarem as mesmas atividades.
Aos poucos, as imitações se transformam em brincadeiras de faz-de-conta e as crianças passam a dedicar grande parte de seu tempo, sozinhas ou em pequenos grupos, desenvolvendo sequências de ações que narram uma cena característica de seu cotidiano.
Se elas têm acesso a roupas, vestem-se de “papai” ou “mamãe”, cuidam da boneca, arrumam-se para sair e “trabalhar” ou fazer compras, fazem comidinha etc.
Professor(a), é muito importante propiciar as brincadeiras, procurando enriquecê-las com objetos variados, sugerindo o acréscimo de novas ações até que o faz-de-conta se torne uma história, um enredo, com começo, meio e fim.
Brincando de faz-de-conta, a criança consegue se colocar no lugar de outras pessoas, desempenhando diferentes papéis, vivenciando diferentes situações e lidando com emoções variadas.
Através delas as crianças têm contato com vivências distintas da sua própria. As brincadeiras solitárias às vezes são interessantes, mas muito mais ricas são aquelas desenvolvidas por pequenos grupos de crianças.
Algumas crianças deixam de brincar por falta de hábito ou por excesso de estímulo, como agitação ao redor ou consumismo, o que tira o sentido de parceria e desvaloriza os brinquedos.
Você, professor(a), pode ajudá-las a aprenderem a interagir de maneiras mais competentes e a reencontrarem o prazer da brincadeira com outras crianças.
Procure ir registrando o maior número possível de brincadeiras das quais você se lembra, sejam aquelas da sua infância, sejam as que você observa nas crianças que frequentam sua creche ou pré-escola.
Você verá quantas ideias e variações existem para desenvolver brincadeiras com as crianças! Quanto mais você ampliar o seu repertório de brincadeiras com as crianças, mais ricas e interessantes serão as suas experiências e as delas.
Quando comparamos as crianças que têm em torno de 2 anos com aquelas que já passaram dos 4 anos, vemos que elas são muito diferentes, não só no tamanho, mas principalmente nas suas capacidades de agir sobre o meio e se relacionar com as pessoas. No entanto, nem sempre conseguimos perceber como ocorreram tantas transformações.
A criança experimenta muitas crises nessa fase da vida. Se por um lado ela está conquistando espaços e capacidades para ir a busca do que deseja, por outro, os adultos estão mudando sua forma de interagirem com ela, ajudando-a menos e exigindo mais dela.
Ela já conhece um pouco sobre si mesma e, por isso, em algumas ocasiões se sente encorajada a superar desafios, em outras, sente medo e recua. Ora ela quer ser tratada como bebê, ora como pessoa dona de si.
Quer fazer valer a sua vontade a todo custo, chegando a se perder em crises de raiva e choro. Mas quando está calma é capaz de cooperar, conversar e manifesta grande curiosidade sobre tudo, fazendo muitas perguntas.
Sabemos que as crianças dessa idade recorrem a mordidas, arranhões e puxões de cabelo para obter o que querem. E, uma delas ou as duas poderão se agredir, se machucar e chorar.
Muitos(as) professores(as) que trabalham com crianças dessa idade se queixam, porque essas cenas são frequentes e eles(as) sofrem com os conflitos e sofrimentos das crianças, sentindo-se inseguros(as), já que suas ações não eliminam a ocorrência de novas disputas entre elas.
Além disso, fica mais difícil a relação com os pais das crianças agredidas, quando elas vão embora machucadas.
É necessário, em primeiro lugar, estar sempre alerta para evitar que as crianças se machuquem e para impedir que sejam agredidas ou mordidas. Nesse sentido, as crianças pequenas nunca devem ficar sozinhas, sem a presença de um adulto.
Em segundo lugar, é necessário entender que esses conflitos fazem parte do trabalho desses(as) professores(as). As crianças mudarão de turma e outras virão com os mesmos comportamentos. Portanto, nessa fase da vida das crianças, cabe ao(à) professor(a) ajudá-las a desenvolverem novas formas de lidar com esses conflitos.
Em suas oscilações entre serem bebês e serem autônomas, as crianças desta idade estão aprendendo que vivem num grupo social organizado por regras de conduta e hábitos que são esperados de todos para que as pessoas possam se entender.
Cabe ao(à) professor(a) introduzir as normas de conduta socialmente aceitas e paulatinamente estabelecer hábitos, como, por exemplo, dar bom dia, pedir por favor, agradecer e negociar interesses diversos.
Não somente os hábitos para conviver em grupo serão necessários, mas também aqueles que nos previnem de situações ruins, bem como os que nos permitem enriquecer nossas experiências.
Assim, tão importante quanto aprender a lavar as mãos e a adquirir outros cuidados pessoais, é ouvir o que o outro tem a dizer, organizar os objetos que estimamos de forma a preservá-los, dentre outros tantos hábitos.
As crianças dessa idade ainda não entendem muitas coisas, mas passam a gostar de organizar suas ações numa sequência de hábitos que vão ampliando, com o tempo, sua capacidade de propiciar a si mesmas momentos de bem estar e prazer.
Percebem, também, que esses hábitos aproximam-se do modo adulto de viver, que desejam conhecer, dominar e sentir-se parte.
Aos poucos, as crianças percebem a necessidade de aprender as primeiras regras de conduta social, como negociar interesses, ao invés de ter gestos impulsivos, cuidar dos objetos, ao invés de destruí-los e controlar suas ações obedecendo a uma sequência temporal.
Essa aprendizagem envolve um exercício de controle sobre seus impulsos motores e emocionais, mas isso continua só sendo possível quando elas têm a experiência de um vínculo afetivo estável com determinados adultos.
Passada essa fase mais crítica, os conflitos entre as crianças continuam a ocorrer, mas em menor frequência. Tendo desenvolvido um controle psicomotor mais apurado e aprendido a usar a linguagem verbal em seu benefício, dominando melhor o tempo e os espaços, elas são capazes agora de alguns autocuidados e já não estão mais tão dependentes do adulto.
Podem permanecer por longos períodos interessadas em alguma atividade, como folhear livros, manusear jogos de construção, brincar na areia e outros, de preferência quando têm a companhia de outras crianças.
As crianças a partir de 4 anos continuam precisando da atenção e aprovação dos adultos, mas também se acham em condições de participar de decisões, embora ainda tenham seus momentos de acreditar que não sabem, quando pedem para que o(a) professor(a), por exemplo, faça o desenho por elas.
Quantas alegrias e tristezas vivemos por causa das reações dos outros em relação ao que fazemos! As crianças dessa idade estão muito sensíveis a isso, embora durante toda a vida tentarão entender as reações dos outros e ajustar as suas próprias em relação a elas.
Além de continuar a auxiliar as crianças em suas explorações sobre o mundo, principalmente através das brincadeiras de faz-de-conta, o(a) professor(a) pode agora compartilhar com elas as decisões sobre as regras e ações do grupo, ajudando-as a ajustarem suas ações no ambiente coletivo.
É comum encontrarmos em instituições de Educação Infantil trabalhos organizados onde o(a) professor(a) desenvolve atividades que objetivam ensinar às crianças o alfabeto e os números, centralizando a atenção das crianças para si e orientando ações muito específicas, tais como completar linhas num exercício de grafismo, ou levá-las a dar uma única e determinada resposta a uma questão.
No entanto, as crianças têm muito tempo para aprender. Elas precisam se movimentar muito, brincar muito e serem introduzidas, aos poucos, ao mundo dos conhecimentos sistematizados pela humanidade, conforme demonstrem curiosidade sobre ele.
Elas devem aprender a preservar o espaço coletivo, expressar sentimentos, ideias, costumes, preferências e a tomar atitudes não-violentas na resolução de conflitos.
A criança ao longo da Educação Infantil aprenderá noções de escrita, leitura, números e tantas outras coisas, mas de uma maneira lúdica, prazerosa, permeada por fantasias, movimentos, afetos, histórias e músicas.
Especialmente nas instituições de Educação Infantil, é fundamental que o(a) professor(a) promova as relações entre as crianças e as ajude a tomar decisões, construir e compreender regras, cooperar, conversar, elaborar planos coletivos, negociar, dividir, compartilhar e enfrentar fracassos.
Nesse processo, o(a) professor(a) valoriza a diversidade de linguagens – gestos, palavras, sons, desenhos, escrita – como instrumentos para a criança pensar o mundo e a si mesma.
Na Educação Infantil, as brincadeiras estão presentes em todos os momentos. Devemos considerá-las no planejamento pedagógico, reservando longos períodos diários para que as crianças brinquem.
Depois que a criança tiver desenvolvido formas variadas de compreender e agir sobre o mundo, ampliando suas relações com as pessoas, os espaços, os tempos, os significados e com ela mesma, poderá se organizar para o ensino sistematizado dos conhecimentos.
Espero que tenha gostado do estudo de hoje. Abraços e até a próxima!😉
Fonte: Livro de estudo: Módulo II / Karina Rizek Lopes, Roseana Pereira Mendes, Vitória Líbia Barreto de Faria, organizadoras. – Brasília: MEC. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação a Distância, 2005. 70p. (Coleção PROINFANTIL; Unidade 2).
Gostaríamos de ajudá-lo(a), professor(a), a aprimorar sua prática no trabalho pedagógico, de forma a mediar o olhar da criança sobre si mesma (e sobre o mundo) e ajudar a criança a constituir sua identidade, acompanhando seu belo processo de construção de conhecimentos e da subjetividade.
Tanto nas crianças quanto nos adultos, a cada nova aprendizagem a pessoa se desenvolve e se posiciona no mundo. E cada diferente posição do “eu” no mundo propicia novas aprendizagens, nova construção de conhecimentos. Portanto, esses processos se apoiam e se influenciam mutuamente.
É por isso que hoje vamos dar início a mais um novo estudo.
CONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEM
Para apresentar as principais ideias sobre o desenvolvimento de crianças de 0 a 6 anos, de forma a subsidiar a sua mediação nesse desenvolvimento, organizamos um estudo em três aulas, a saber:
Módulo 1 – Reconhecendo experiências de aprendizagem.
Módulo 2 – A exploração do ambiente imediato.
Módulo 3 – A construção da identidade pela criança.
Objetivo específico a ser alcançado nesta primeira aula:
– Discutir como a construção de conhecimentos se faz nas práticas pedagógicas.
Muitas pessoas imaginam que o resultado de uma aprendizagem depende da inteligência da pessoa (criança ou adulto). Ou seja, quem aprende rápido é inteligente. Quem não aprende, ou demora a se apropriar de um determinado conteúdo, significado ou de uma ação, não é tão inteligente assim.
Mas será que estas ideias estão corretas? Será tão simples assim avaliar a inteligência e a aprendizagem de alguém?
Propomos a você primeiro fazermos juntos uma reflexão sobre o aprender e qual o papel do(a) professor(a) junto às crianças para favorecer seu processo de construção de conhecimentos e da sua subjetividade.
Muitos de nós, professores(as), fomos acostumados a entender que a aprendizagem significa o domínio (ou memorização) de conceitos ou de técnicas usadas para se obter um determinado resultado, por exemplo, ensinar às crianças o nome das cores ou a escrever o seu próprio nome.
Com isso, ficamos surpresos quando uma criança reage de uma forma inesperada e inteligente, por ela ter aprendido outras coisas que não estavam em nossos planos!
Quer dizer que ela aprende coisas à revelia do(a) professor(a). Aprende com outras crianças e aprende mesmo quando, interagindo com ela, não estamos preocupados com o que está aprendendo. Ela também aprende coisas que não queríamos que aprendesse.
Educamos as crianças e podemos ensinar a elas muitas coisas em atividades como as de refeição, de higiene, na hora de dormir, ou quando elas estão brincando. Por outro lado, podemos ensinar melhor algumas coisas conforme o cuidado que dedicamos a estes momentos.
É muito diferente a experiência para as crianças, por exemplo, se proporcionamos um ambiente organizado, ou não, se lhes damos uma atenção individualizada, ou não.
A maneira como desenvolvemos uma atividade, seja de alimentação, na realização de um projeto de pesquisa, ou na brincadeira, revela às crianças o cuidado que estamos dedicando a elas.
A aprendizagem e a afetividade caminham juntas. Não pense, professor(a), que a afetividade diz respeito somente ao carinho e ao amor. Quando falamos em afetividade estamos falando de todas as emoções e sentimentos que afetam uma pessoa.
Conforme a maneira como cuidamos de cada uma das atividades com as crianças, podemos estar lhes proporcionando diferentes afetos, tais como a admiração, a gratidão, a inveja, a raiva, o despeito, o medo, o arrependimento, a culpa, a coragem, a presença ou ausência de autoestima e tantos outros.
Desde que nascemos, o estado emocional (nosso e das pessoas com quem interagimos) afeta a nossa capacidade de aprender e de agir sobre o mundo. À medida que aprendemos, nos tornamos capazes de identificar nossos afetos e, algumas vezes, voltá-los para o nosso benefício. Isso também é aprendizagem.
As crianças, com sua inteligência e afetividade, estão aprendendo sobre o mundo e sobre si mesmas a partir de todas as interações que os adultos – especialmente os pais e os(as) professores(as) – estabelecem com elas.
Para cumprirmos nosso papel na educação das crianças, é necessário que estejamos atentos tanto ao que elas estão aprendendo quanto ao que estão sentindo. Mas não é somente a afetividade que influencia e é influenciada pela aprendizagem.
Podemos dizer que os seres humanos integram aspectos físicos, psicológicos (cognitivos e afetivos) e sociais. Vamos primeiro nos reportar a uma situação da vida dos adultos para compreender essa integração.
Você já reparou como a pessoa fica ansiosa às vésperas de se submeter a uma entrevista de seleção para um emprego? Ela não para de pensar nisso e sua barriga ou cabeça podem até doer!
Estão, aí, presentes os aspectos sociais (o emprego), emocionais (a ansiedade), cognitivos (ficar pensando nas perguntas que podem fazer e nas respostas que vai dar) e físicos (a compulsão para comer ou falta de apetite, músculos tencionados, falta de sono), influenciando simultaneamente as possibilidades de desenvolvimento dessa pessoa.
A expectativa de um acontecimento novo, a tristeza por uma frustração, a alegria por uma grande realização alteram significativamente as nossas condições físicas, psicológicas e sociais a cada momento das nossas vidas, e isso não é diferente com a criança! Essas condições fazem com que tenhamos momentos menos ou mais propícios para aprender.
A aprendizagem é um recurso de que todos os seres humanos se utilizam para se adaptar ao ambiente em que vivem e para conquistar o que almejam e desejam.
Este ambiente é composto de espaço, tempo, objetos e pessoas. Todos muito influenciados pela organização social (histórica e geográfica), que determina muitas de nossas práticas, crenças, valores e organização da vida.
Portanto, à medida que aprendemos a manipular os objetos, a organizar nossas ações numa sequência, a lidar com as pessoas etc., nos tornamos mais capazes de viver melhor, atingir nossos objetivos, obter satisfação e prazer com a vida.
Porém essa aprendizagem não é simples. A criança precisará de muitos anos para compreender e se apropriar das práticas sociais concretas e dos significados existentes em sua cultura.
Você percebeu como a atuação do(a) professor(a) é complexa? Mas você também, professor(a), já deve ter aprendido algo com as crianças.
Portanto, professor(a), quando você estiver diante de uma criança mais lenta, ou que se mostra sem saber o que fazer, tente observar se a dificuldade que ela demonstra está mais relacionada à falta de informações prévias, a uma dificuldade emocional ou afetiva para pensar objetivamente sobre a situação, ao fato de estar interessada em outra coisa, ou a algo que nenhum de nós ainda pudemos supor que possa estar ocorrendo com ela.
Com o que vimos até aqui, podemos perceber a importância do acolhimento, de um clima afetivo positivo, da constância da formação de vínculos e amizades.
Para a criança, suas relações sociais têm muita importância e devemos considerá-las com seriedade. O(a) educador(a) transmite segurança acolhendo as emoções da criança, ouvindo-a, valorizando suas perguntas e produções, e respeitando suas opiniões.
Podemos concluir, também, sobre a importância de cuidar, “dar um colo”, arrumar ambientes acolhedores para que as crianças possam se identificar com eles.
A história pessoal de cada criança precisa ser levada em conta, assim como a história coletiva daquele grupo, daquela turma. E que os diferentes tempos das crianças sejam respeitados.
Estamos todos aprendendo, e temos muito o que aprender, sobre as crianças. O que elas podem estar aprendendo a cada situação? É o que tentaremos identificar na próxima aula: A exploração do ambiente imediato.
Espero que tenha gostado do estudo de hoje. Abraços e até a próxima!😉
Fonte: Livro de estudo: Módulo II / Karina Rizek Lopes, Roseana Pereira Mendes, Vitória Líbia Barreto de Faria, organizadoras. – Brasília: MEC. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação a Distância, 2005. 70p. (Coleção PROINFANTIL; Unidade 2).
Humberto Maturana e Francisco Varela foram dois biólogos chilenos que revolucionaram a maneira como entendemos a vida, o conhecimento e a cognição.
Embora ambos tenham formação em biologia, suas contribuições ultrapassam os limites da ciência natural, influenciando profundamente áreas como a filosofia da mente, a epistemologia, a psicologia e até a educação.
A principal teoria desenvolvida pela dupla é a teoria da autopoiese, conceito que propõe uma nova maneira de compreender os sistemas vivos.
A Origem da Autopoiese
A palavra autopoiese vem do grego: auto (próprio) e poiesis (criação), ou seja, "auto-criação". Essa ideia surgiu a partir das pesquisas de Maturana sobre o funcionamento dos sistemas nervosos em seres vivos, especialmente no comportamento de animais.
Varela, seu aluno e depois parceiro intelectual, uniu-se à pesquisa, e juntos publicaram em 1972 a obra seminal "De Máquinas e Seres Vivos: Autopoiese – A Organização do Vivo".
Para Maturana e Varela, um sistema vivo é aquele que é capaz de manter sua própria organização — é fechado em termos organizacionais, mas aberto em relação ao ambiente no qual está inserido.
Isso significa que ele se auto-produz continuamente, regenerando seus próprios componentes enquanto interage com o mundo ao seu redor. O organismo não é um mero receptor passivo do ambiente, mas um construtor ativo de sua própria realidade.
Cognição como Ato Biológico
A partir da noção de autopoiese, Maturana e Varela desenvolveram também uma nova compreensão da cognição. Em vez de enxergar o conhecimento como uma representação fiel de um mundo externo objetivo, eles afirmam que conhecer é viver.
O conhecimento, segundo eles, emerge da história de interações entre o organismo e seu ambiente. Assim, cognição é vista como um processo incorporado e situado.
Essa abordagem é chamada de cognição incorporada (ou enativa). Em outras palavras, a mente não está separada do corpo e do mundo, mas é parte de um sistema integrado.
Varela expandiu essa ideia em seus trabalhos posteriores, especialmente na obra "The Embodied Mind", escrita com Evan Thompson e Eleanor Rosch, onde dialoga com a tradição budista e com a fenomenologia de Husserl e Merleau-Ponty.
Implicações Filosóficas e Sociais
As ideias de Maturana e Varela possuem profundas implicações filosóficas. Ao desafiar a visão clássica de um sujeito conhecedor separado do mundo, eles propõem uma epistemologia relacional. Isso significa que a verdade não é algo que existe independentemente do observador, mas é cocriada na relação entre o observador e o observado.
Implicações Filosóficas e Sociais
As ideias de Maturana e Varela possuem profundas implicações filosóficas. Ao desafiar a visão clássica de um sujeito conhecedor separado do mundo, eles propõem uma epistemologia relacional. Isso significa que a verdade não é algo que existe independentemente do observador, mas é cocriada na relação entre o observador e o observado.
Emoção e Aprendizagem
Para Maturana, a cognição está profundamente ligada às emoções. Ele afirma que “tudo o que fazemos como seres humanos acontece na emoção”. Isso significa que o processo de aprender não pode ser separado do ambiente emocional no qual o aluno está inserido.
Legado e Atualidade
A obra de Maturana e Varela continua viva e sendo debatida nas mais diversas áreas. Suas ideias inspiraram práticas educacionais mais centradas na experiência e no diálogo, influenciaram o design de organizações mais humanas e colaborativas, e contribuíram para o surgimento de campos como a biologia do conhecer e a neurofenomenologia.
Mais do que teorias biológicas, suas contribuições representam um convite à reflexão sobre o que significa estar vivo, conhecer, sentir e conviver.
Em tempos marcados por crises ecológicas, sociais e políticas, suas ideias oferecem caminhos para repensar nossas relações com os outros e com o mundo — não a partir de modelos de controle e previsibilidade, mas sim da escuta, do respeito e da coevolução.
Espero que tenha gostado do post de hoje. Abraços e até a próxima!