sábado, 2 de agosto de 2025

Tendências Pedagógicas E Seus Educadores Nos Diversos Contextos Históricos

 


   Neste post vamos estudar as concepções e práticas desenvolvidas na Educação Infantil. Aqui nós iremos ver que, há muito tempo, a educação das crianças pequenas vem sendo uma preocupação de alguns educadores. E muito do que fazemos e pensamos a respeito da Educação Infantil tem sua origem nas ideias e práticas elaboradas por esses educadores.

  Toda prática está sempre associada a ideias que justificam nossas escolhas. As práticas pedagógicas estão relacionadas às nossas ideias sobre o que é educação, para que educar, a quem educar, por que educar e como educar.

  Nosso estudo nos permitirá compreender por que as práticas educacionais desenvolvidas nas creches, pré-escolas e escolas que têm turmas de Educação Infantil nem sempre se organizam da mesma forma.

Aula 1 – As pedagogias iluminista e escolanovista: tendências pedagógicas e seus educadores nos diversos contextos históricos

   Objetivo a ser alcançado nesta seção:

- Conhecer os aspectos filosóficos, históricos e didáticos das tendências pedagógicas da educação para a infância nas perspectivas iluminista e escolanovista, destacando alguns educadores, como Rousseau, Fröebel, Decroly e Montessori.

   Vamos começar a nossa conversa discutindo o termo pedagogia. Segundo o Novo Dicionário Aurélio, pedagogia é:

1. Teoria e ciência da educação e do ensino.

2. Conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um objetivo prático.

3. Profissão ou prática de ensinar.

   A partir dessa definição, podemos dizer que pedagogia é um conjunto de conhecimentos e práticas relacionados à tarefa de educar. Entretanto, observamos que esses conhecimentos e práticas nem sempre são os mesmos, variando ao longo do tempo ou do lugar.

   Você se lembra que no Módulo I estudamos a história do atendimento à criança pequena, e analisamos o processo de profissionalização docente? 

   Naquele estudo, tivemos a oportunidade de ver que o atendimento à criança foi determinado pelos interesses e necessidades de cada época e lugar, que determinam também o perfil do profissional esperado para atuar na educação.

   Dessa forma, cada tipo de atendimento, ou perfil profissional, está relacionado ao que chamamos tendência ou modelo pedagógico, que nada mais é do que o conjunto de ideias e práticas organizadas em cada época ou por um determinado grupo de educadores.

   Recentemente, a partir da LDB de 1996, a Educação Infantil passou a fazer parte de nosso sistema de ensino, mas o atendimento à criança pequena é anterior a isso. Na verdade, a ideia de educar crianças desde muito cedo, existe há alguns séculos!

  Há mais de duzentos anos que alguns educadores vêm pensando na importância de se promover a educação da criança.

  A primeira iniciativa de atendimento à criança de que se tem notícia é a do pastor protestante Jean Fredéric Oberlin, no ano de 1771, na França. Oberlin criou uma creche para acolher as crianças enquanto suas mães estivessem trabalhando.

  Alguns anos mais tarde, em 1816, na Escócia, um industrial abriu junto à sua fábrica têxtil um instituto para formação dos filhos de seus operários, que atendia a crianças pequenas. 

  Também há registro de instituições que atendiam crianças, neste mesmo período, em outros países da Europa, entre eles, Itália e Bélgica. Essas instituições atendiam especialmente crianças pobres e filhas de mães trabalhadoras.

 Por que será que na mesma época várias pessoas, intelectuais e pensadores de diferentes lugares começaram a se preocupar com as crianças?  Nessa época, fim da chamada Era Moderna, ocorreu uma série de transformações na sociedade, particularmente, na sociedade europeia. 

 Foi quando houve a transição do feudalismo para o capitalismo, a liberação da mão-de-obra, o aperfeiçoamento das técnicas de produção e a ampliação dos mercados.

 Embora o mundo ainda fosse essencialmente agrário, como no período feudal, no final do século XVIII, observamos o crescimento da produção, do comércio e da racionalidade econômica e científica.

  Havia uma classe economicamente em ascensão formada pelos “círculos mercantis e os financistas e proprietários economicamente iluminados, os administradores sociais e econômicos de espírito científico, a classe média instruída, os fabricantes e empresários”. Essa classe média foi chamada de burguesia.

  As mudanças que ocorreram em meados do século XVIII e começo do século XIX na organização da sociedade e no modo de produção, também se deram no plano das ideias o que acarretou a organização de uma nova tendência do pensamento chamada Iluminismo ou “Filosofia da Ilustração”. 

 Nesse período, enfatizavam-se os poderes da razão, também chamada “as Luzes“ (por isso, o nome Iluminismo). Em síntese, o Iluminismo afirmava que era a “Época das Luzes”. 

 Os temas discutidos giravam em torno da liberdade, do progresso e do homem. A ideia do universo em movimento, apresentada pelos racionalistas do século XVII, favorecia essas discussões.

  Tudo era agora compreendido como mutável. Mas a mudança seria sempre para melhor, daí a ideia do progresso. Era natural, e por trás disso estava a burguesia, que tinha tudo para se sentir otimista.

  Os filósofos atacavam duramente as instituições do Antigo Regime. E era o que ela precisava – uma justificação para o assalto ao poder, e o Iluminismo veio preparar o clima revolucionário. 

  A ideia de que pelo conhecimento se alcança a liberdade, a felicidade e o progresso afirmava a necessidade de promover a difusão do conhecimento para todos através da educação. Era preciso educar o novo homem, o novo cidadão.

  Uma educação não por meio de dogmas, como a Igreja até então havia imposto, mas uma educação pelo conhecimento das ciências e das artes. 

  O que se assistiu nesse período foi, por um lado, a afirmação da escola como espaço de socialização do cidadão e, por outro, a necessidade de abrigar os filhos das mães trabalhadoras, uma vez que os espaços de trabalho foram separados dos espaços domésticos. 

Isso porque, a partir de então, os trabalhadores precisaram se deslocar de seu lugar de moradia, no qual também desempenhavam seus ofícios, para serem inseridos em outros espaços determinados para o exercício de seu trabalho.

  A migração da população do campo para a cidade e o deslocamento da atividade produtiva para as fábricas fez com que os adultos e mesmo as crianças mais velhas saíssem para trabalhar, passando a ser responsabilidade exclusiva das mães o cuidado das crianças pequenas.

  Por outro lado, as condições de miséria do povo e o crescimento da produção industrial levaram muitas mulheres para o mercado de trabalho.

  Dessa forma, a criação de locais para abrigar as crianças pequenas das classes populares foi tornando-se uma exigência. A educação das classes populares e a instrução e formação sistemática das crianças em escolas fez parte das medidas dos governos marcadamente europeus.

 A educação tornou-se questão social. Os filhos de trabalhadores precisavam ter uma instrução sistemática a fim de que pudessem ser educados para a transformação social, objetivando a modernização dos Estados. 

  Afinal, se a criança era um ser tão maleável, como diziam os moralistas do século XVI, ela seria o veículo apropriado de transmissão dos saberes dominantes às gerações futuras. Foi com a obrigatoriedade da escolarização que o sentimento de infância se constituiu para as classes pobres.

A Pedagogia Iluminista

  Como vimos, no período iluminista assistimos à afirmação da necessidade de criação de espaços educativos para que fossem transmitidos os conhecimentos essenciais para a formação deste novo homem – racional, com conhecimentos científicos que se contrapusessem aos saberes do senso comum, superstições e dogmas religiosos que caracterizavam o período anterior.

  “Dizia-se então que era chegado o momento de “iluminar” as amplas camadas da população, ou seja, esclarecê-las. Esta seria a principal condição para uma sociedade melhor. 

  Entre o povo, porém, imperavam a incerteza e a superstição. Por isso, dedicou-se especial atenção à educação. Não é por acaso que a Pedagogia, como ciência, foi fundada na época do Iluminismo.” 

 Assim, a Pedagogia Iluminista, que foi desenvolvida durante o século XVIII, visava libertar o pensamento de saberes que pudessem obscurecer a razão individual e os princípios de liberdade, os quais já estariam contidos em uma natureza humana.

“A educação não deveria apenas instruir, mas permitir que a natureza desabrochasse na criança, não deveria reprimir ou modelar.” 

A Revolução Francesa foi um acontecimento marcante naquele período, pois representou a emergência de um novo ideal de sociedade e de novas concepções de educação e de homem.

Esse movimento baseou-se nas exigências populares por um sistema educacional que atingisse toda a sociedade, das mulheres que buscavam direitos iguais aos dos homens e dos intelectuais por uma sociedade na qual imperasse a razão, o conhecimento científico verdadeiro e os princípios de liberdade e igualdade.

“O século XVIII é político-pedagógico por excelência”

- Camadas populares reivindicavam mais saber e educação pública.

- Primeira vez que um Estado instituiu a obrigatoriedade escolar .

- A educação pretendia ser laica e gratuita para todos.

- A educação passou a visar à formação de cidadãos partícipes de uma nova sociedade liberal e democrática.

- A burguesia precisava de trabalhadores com instrução mínima, orientando uma educação para a formação do cidadão disciplinado.

   Vale lembrar, contudo, que a educação proposta não era exatamente a mesma para todos, pois admitia-se a desigualdade natural entre os homens.

   Essa visão de que todos temos dentro de nós uma semente que precisa ser regada, ainda é bastante forte em nossa sociedade e é compartilhada por profissionais de várias áreas, por exemplo, psicólogos e professores.

   Para os filósofos do Iluminismo, a natureza era quase a mesma coisa que razão. Isso porque a razão era considerada uma dádiva da natureza ao homem. Buscar um ideal de homem, puro e sem as deformações da civilização, era o objetivo maior desta corrente de pensamento filosófico.

  Sobre este ponto, destacamos o filósofo Rousseau e a ideia de natureza humana como essência para pensarmos como o sujeito aprende e como deve ser educado, assunto para nosso próximo post.

Espero que tenha gostado do post de hoje. Abraços e até a próxima!😉

Fonte: COLEÇÃO PROINFANTIL - MÓDULO III - unidade 3 . Livro de estudo - vol. 2

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